terça-feira, 16 de outubro de 2018

A arte de delegar: “Vá e me traga o ovo do dragão de sete cabeças!”


Um dos conceitos da administração que abriu minha mente, já na graduação, foi a delegação. Quando entendi o que representava, comecei a observar os gestores de uma maneira diferente.

Na minha opinião um bom gestor domina a arte da delegação. Posso afirmar, sem sombra de dúvida, que são poucos aqueles que realmente dominam a arte.

A grande maioria dos gestores delega atividades, mas não delega autoridade. Ou seja, o funcionário delegatário tem que abrir portas sem o crachá de autorização, é óbvio que falha.

As principais desculpas para não delegar autoridade são: a falta de capacidade do delegatário e a falta de confiança do delegante no delegatário.

As desculpas já apontam uma deficiência grave do delegante em relação ao que o ato de delegar requer: não se delega responsabilidade, apenas autoridade.

O delegante foi contratado para ser responsável por uma área ou um conjunto de atividades; ao delegar atividades, ele deve ceder autoridade para que o delegatário possa agir em seu nome, sob suas orientações e monitoramento. Ou seja, para o delegatário abrir determinadas portas, receberá crachá com autorização e cada vez que passar por uma das portas haverá um informe ao delegante, que será responsável por avaliar se o delegatário passou pelas portas no momento correto, executou o que deveria executar e retornou com o resultado esperado.

Os erros mais comuns são: ou não delegar a autoridade, ou delegar a autoridade e não controlar o que o delegatário faz com essa autoridade.

Em geral, um CEO delega autoridade sem controlar o que seus diretores estão fazendo em seu nome. No nível de gestão ou supervisão, a delegação ocorre sem autoridade, como são os últimos postos de comando na hierarquia da empresa, acreditam, erroneamente, que ao delegar autoridade perdem poder sobre os subordinados. Erram: o CEO e diretores que delegam sem acompanhar o que seus representantes realizam em seu nome; e, os gerentes e supervisores que esperam que seus subordinados os representem, sem de fato ceder autoridade para tanto.

A grande questão não é a autoridade em si, mas o controle sobre o que o delegatário faz com essa autoridade.

Para que a delegação ocorra de maneira correta, é importante que o delegatário conheça o propósito do que lhe é pedido de forma clara e objetiva: “Quero que atravesse aquela porta e me traga o ovo do dragão de sete cabeças”.

Em busca do ovo de dragão de sete cabeças
Estabeleça o resultado a ser alcançado.


Para tanto o delegatário tem que ter: um crachá com permissão ou uma chave que abra a porta; esteja trajando uma armadura à prova de fogo, resistente o suficiente para aguentar sete cabeças de dragão baforando chamas sobre ele; uma espada com lâmina bem afiada. Ah, o delegatário não pode ser qualquer um, ele precisa ter algumas habilidades especiais: saber manejar a espada; ter força o suficiente para decepar cabeças de dragão; ser corajoso e saber lidar com o inesperado (o dragão pode estar dormindo como pode estar furioso por ser novamente abordado por um ser com espada na mão).

Você, como delegante, pode pedir informes do que seu delegatário está fazendo do outro lado da porta (relatórios e planilhas de controle fornecidas pelo delegatário): sempre que decepa uma cabeça do dragão, ele grita quantas cabeças já decepou: “Três já foram, faltam quatro”. Ou você instala controles (automatiza seu monitoramento) para observá-lo em ação, como câmeras ou drones equipados com câmeras.

Se seu delegatário não estiver apresentando um bom desempenho, você pode orientá-lo e corrigi-lo de tempos em tempos: “Cuidado! A sétima cabeça vai atacá-lo pela direita, e a quinta pela esquerda. Defenda as laterais!”. 

Importante: A responsabilidade por trazer o ovo do dragão não é do delegatário, é sua!

Mas por quê você o mandou em seu lugar? Porque ele tem habilidades que você não tem, o fato dele matar o dragão e voltar com o ovo não o torna apto para assumir o seu posto de comando, porque o delegatário não tem as habilidades que você tem (selecionar as pessoas corretas, orientá-las e mantê-las firmes no propósito de atingir o objetivo). Ele só é bom em lutar com criaturas monstruosas, ou seja, serve muito bem ao propósito dele no time: ser um guerreiro.

Um bom gestor, na minha opinião: 
  • seleciona bem sua equipe, porque reconhece suas responsabilidades e quais resultados precisa atingir; 
  • sabe delegar, porque delega autoridade e acompanha se os objetivos e resultados estão sendo cumpridos, orienta os liderados sempre que eles perdem o rumo; 
  • e, por fim, inspira seus liderados, porque serve à sua equipe um bom exemplo de gestão e dá autoridade a cada um de seus liderados, que, dessa forma, têm pleno domínio de suas habilidades.

Hora de delegar: “Vá e resgate ovos de dragão de sete cabeças ao longo de sua carreira como gestor!” « 

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