Por muito tempo eu defendi que as empresas deveriam ter um
escritório de processos, mas, principalmente no Brasil, os escritórios de processos
se envolveram em tantas mazelas, que só ajudaram a desacreditar a gestão por processos.
Algo que era extremamente simples e perfeitamente plausível foi
transformado em algo utópico e inatingível. Muitos escritórios de processos se
especializaram em encontrar desculpas para não entregar resultados.
Poucos escritórios de processos realmente funcionam. E
quando funcionam o modelo não pode ser replicado em uma empresa mais modesta, que
trabalha de forma enxuta e não tem orçamento para manter uma equipe extra de 3
a 5 membros. Em tempos de crise nem empresas grandes se dispõem a ampliar o orçamento
para tanto.
Analisei a fundo a situação e cheguei à conclusão de que o
escritório de processos, não produz resultados e deve ser eliminado.
Em um encontro com um consultor da área, eu expus minha crença
e ele corroborou com outros insights. Minha crença se fortaleceu, pois ele tem
vasta experiência com a realidade de empresas pequenas e que precisam da gestão
por processos tanto ou mais quanto as grandes.
Como assim, Krika? Você está realmente dizendo que nossa profissão deve morrer?
Os profissionais de processo continuam a existir, mas em uma
dimensão diferente da praticada atualmente. Aliás, como deveria ser desde o princípio:
como facilitadores.
O que é a gestão por processos senão uma forma de gestão que
deveria ser factível para a empresa, executada por gestores dos processos (process
owners).
Partindo deste princípio, os gestores dos processos devem
ser treinados e liberados para tomar posse, sentirem e de fato serem donos da
execução dos seus processos.
A equipe ou profissional de processos, como uma consultoria,
deveria ser capaz de semear o conhecimento na empresa, guiar os gestores dos
processos para tomarem posse da execução dos processos e melhoria contínua. A
partir daí o papel da equipe ou do profissional de processos termina e a
empresa consegue seguir seu ritmo. Em forma de assistência especializada, o profissional de processos poderia ser consultado on demand.
Exatamente como andar de bicicleta: você apoia um pé no chão
e o outro no pedal, assim que começa a mover o pedal o outro pé abandona o chão
e passa a mover o outro pedal em sincronia e na mesma direção, um lado sobe o
outro desce. Para manter o equilíbrio deve-se continuar pedalando.
Experimentação
e movimento em doses moderadas, até conseguir alcançar longas distâncias. Essa é a forma, que eu acredito, que empresas de qualquer
porte podem realmente decolar na gestão por processos.
Desde que o trabalho passou a ser organizado, o processo faz
parte da rotina das empresas, a maioria delas não sabe disso e acreditam que a
gestão por processos é novidade, mas não é. Todos os seus conceitos e ferramentas
estão acessíveis e disponíveis, inclusive gratuitamente.
Atualmente, os profissionais de processos ligam os pontos e
conectam tudo dentro da sua empresa, eles até tomam decisões por sua empresa. É
uma terceirização da posse dos processos, que vai contra os conceitos mais puros
da gestão por processos. O papel do gestor do processo se executado com esse
sentimento de posse, de dono, faz toda a diferença para o sucesso da gestão por
processos que realmente alcança resultados para a empresa.
Na minha carreira eu já vi o gestor de processos que tomou
posse do processo e o gestor que não, por isso sei que é exatamente neste ponto que
mora a diferença entre o sucesso e o fracasso da iniciativa da implantação da gestão
por processos. Claro que outros fatores também podem influenciar, mas este com
certeza é o mais crítico.
Certa vez um discípulo, perguntou-me como fazer com que o
gestor se sinta dono do processo se a empresa não é dele.
De fato, a empresa não é dele, mas o processo, que nada mais é do que
o conjunto de tarefas executadas, ou seja, o trabalho a ser executado, esse sim é dele. Ele é
remunerado pelo que ele entrega. Os resultados integram sua reputação e, além disso,
ele consegue levar com ele, em forma de experiência, para onde ele for.
Dessa
perspectiva, não é difícil convencer o gestor do processo a tomar posse do que é
dele.«
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