terça-feira, 10 de fevereiro de 2015

Não crie oportunidades para malfeitos

Nenhuma empresa está imune aos escândalos como os que se viram recentemente com a Petrobrás e HSBC: fraudes, corrupção e lavagem de dinheiro.

Mesmo que o fundador da empresa seja uma pessoa extremamente honesta e de princípios inquestionáveis, uma empresa é formada por pessoas. E se tratando de pessoas, trata-se da união de personalidades, crenças e valores diferentes.

Se até em um casamento, onde se casa com a pessoa que se ama, podem haver surpresas desagradáveis, imagina em uma empresa com 10, 100, 1000, 10000 ou mais pessoas diferentes.


mal·fei·to

adjetivo
1. Que tem defeito ou foi mal executado. = IMPERFEITO
2. Disforme.
3. [Figurado]  Mau, maldoso, injusto, imerecido.
substantivo masculino
4. Dano, prejuízo, estrago.
5. [Antigo]  Malfeitoria.

"malfeito", in Dicionário Priberam da Língua Portuguesa [em linha], 2008-2013, 
http://www.priberam.pt/dlpo/malfeito [consultado em 10-02-2015].

Basta uma maçã podre para que a cesta de frutas fique comprometida.

Os problemas quase sempre vêm de cargos de confiança, pessoas com muitas chaves e acessos e nenhum controle sobre seus atos.

Empresas que trabalham na distribuição de valores (carros fortes), investigam a situação financeira e até as amizades das pessoas que lidam diretamente com o dinheiro, antes de contratá-los, e estas pessoas trabalham sob o monitoramento constante de câmeras de segurança, além disso são feitas várias conferências programadas e aleatórias durante o dia.

Esse controle é mantido mesmo que a pessoa tenha anos de empresa e a confiança de todos, é um controle preventivo.

Mesmo que por algum motivo essa pessoa ou alguém ligado a ela tenha algum pensamento para burlar o sistema, percebe logo que é tão complicado e trabalhoso que não vale a pena tentar. É por esse motivo que se ouve notícias sobre explosões em caixas eletrônicos, e quase não se ouve notícias sobre roubo aos carros fortes.  Os carros fortes já foram os alvos preferidos dos ladrões, mas as empresas de distribuição de valores, investiram em recursos de segurança que tornaram as ações criminosas quase nulas.

Minha pergunta é: por que os diretores com poder de assinar contratos milionários, não são monitorados?

Qual a diferença entre um diretor de uma empresa e o cara que conta o dinheiro e separa em pacotes para o carregamento de carros forte?

Alguém tem ideia do montante de dinheiro que passa diariamente pela mão do cara que conta o dinheiro? Eu não tenho, mas partindo do pressuposto de que um carro forte, distribui dinheiro à vários caixas eletrônicos e agências, e recolhe dinheiro de vários estabelecimentos, e esse contador lida com mais de um carro forte por dia, eu diria se tratar de milhões.

Talvez passe mais dinheiro pela mão dele do que pela mão de um diretor. Entretanto, ele é monitorado, para que não roube ou tenha ideias neste sentido (prevenção), o diretor não é.

Eu já vi o trabalho de auditorias internas, mesmo quando elas respondem diretamente ao Conselho de Administração, o trabalho delas é muito tímido em relação ao alto escalão da empresa. Claro que não é trabalho da auditoria interna monitorar, mas se houver algo errado é trabalho dela detectar, mesmo no alto escalão.

Uma fraude, um ato de corrupção, pode acontecer em qualquer nível hierárquico, desde que as pessoas tenham oportunidade e índole para cometê-los.

Dos dois fatores, a índole é mais difícil de detectar, não são para todos os cargos que as leis trabalhistas permitem investigação em registros criminais; além disso, um sujeito pode ter registro criminal e ter se recuperado, ou ele pode não ter nenhum registro criminal, e ter uma mente perversa e criminosa à espreita de uma oportunidade para entrar em ação.

Já a oportunidade, ela pode ser eliminada ou monitorada. Por exemplo, se um diretor pode escolher uma empresa para prestar serviços, os critérios poderiam ser preestabelecidos, por um departamento de compras, com autonomia para questioná-lo sobre a escolha. O contrato não pode ter cláusulas que prejudiquem a empresa contratante, e, deve ser revisto de tempos em tempos, quanto a qualidade do serviço apresentado, cumprimento dos prazos, compatibilidade de preços com o mercado. Toda vez que a escolha recair sobre serviços de maior preço, a qualidade superior aos demais deve ser comprovada.

Se há 3 fabricantes de canetas, a escolha pela mais cara deve recair nela, porque comprovadamente, ela dura mais que as demais, em termos que compense, pois se ela dura duas vezes mais que as outras, mas o preço das outras é cinco vezes menor não compensa. Por outro lado, se ela dura tanto quanto as outras, mas para fabricá-la usa mão de obra estritamente brasileira, onde não é cometido nenhum abuso trabalhista, já as outras tem parte de produção em outros países, e não estão em dia com os tributos trabalhistas, seria aconselhável ficar com a mais cara, por motivos éticos e de apoio à economia local, que na verdade é seu mercado consumidor.

Os critérios precisam estar claramente estabelecidos, e serem revistos conforme o ganho de maturidade da empresa. Se sua empresa tem características sustentáveis, ela vai privilegiar contratos com empresas com características semelhantes, preocupadas com o meio ambiente e as condições trabalhistas adequadas.

Acredito que em um futuro próximo, as empresas sejam mais éticas e menos gananciosas, toda a sociedade, inclusive as próprias empresas, só terão a ganhar com isso. Mas para isso, elas precisam se engajar em ações preventivas de monitoramento. Ninguém mais aguenta ouvir aquela frase manjada e falsamente inocente: "eu não sabia!" (É obrigação saber.) «

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