Ao
longo da história muitos homens e mulheres se levantaram para dizer: “eu não concordo”.
De
certa forma, eles até chacoalharam as coisas, mas a mudança sempre foi lenta,
porque nem todas as pessoas se engajam nela. Elas preferem dizer: “Legal, tem alguém falando sobre isso” e
cruzam os braços à espera do que vai acontecer. Elas só agem quando são
atingidas.
Em
1940, em “O Grande Ditador”, Charles Chaplin fez um discurso, que se fosse
levado à sério teria abolido qualquer forma de ditadura no mundo, entretanto,
após quase 75 anos, os ditadores e seus regimes insanos continuam surgindo e
espalhando o aniquilamento dos direitos civis das pessoas em toda parte do
mundo.
Em
1963, Martin Luther King, em meio às perseguições racistas, conseguiu reunir em
Washington, ao ar livre, um público de cerca de 250 mil pessoas, onde proferiu
seu discurso: “Eu tenho um sonho”. Após quase 52 anos, pessoas não só nos
Estados Unidos, mas no mundo todo continuam a ser condenadas à marginalidade,
ao desrespeito dos seus direitos, à falta de oportunidades, à fome e até à morte,
unicamente pela cor de suas peles.
Peço
licença aos leitores, mas não vou utilizar o termo “afrodescendente” para me
referir ao preconceito de cor de pele, porque eu sou uma afrodescendente, mas
como minha pele é considerada “branca”, nunca sofri qualquer preconceito da
sociedade em geral, com relação à minha cor de pele. Só pela minha condição de
mulher.
Então,
enquanto eu estiver falando do preconceito de cor de pele, vou me referir às
pessoas que sofrem o preconceito como negras, termo que embora não defina quem
elas são, define como as pessoas preconceituosas as veem e o motivo do
preconceito.
Eu me orgulho de ter: 50% do
meu sangue angolano, 25% índio e 25% português. É isso que me faz brasileira,
batalhadora e pensadora livre. Se hoje eu falo mais de um idioma, tenho pós
graduação e sou uma excelente profissional foi tudo esforço meu, e resultado da
minha batalha pessoal, que trabalhei muito para pagar meus estudos.
Por muito tempo, eu ganhei o
suficiente para pagar a faculdade, comprar os livros, comer de forma razoável e
pagar a passagem de ônibus, deixando qualquer tipo de vaidade de lado (não cabia
no bolso). E não pense você que não rolou bullying,
rolou e muito, vocês não sabem como as “patricinhas” são monstruosas quando
percebem que a menina mal vestida tira boas notas, sobretudo na área de
Tecnologia da Informação onde poucas mulheres se destacam.
Trabalhei
em uma empresa, que do cargo de analista para cima quase não se contratavam
negros, o único contratado que vi, era alvo de brincadeiras diárias, vindas inclusive
dos seus superiores. O bullying
sempre vinha nessa embalagem de brincadeira, sempre o colocando como uma pessoa
inferior, preguiçosa, pouco inteligente, malandra. Claro que o rapaz leva tudo na
brincadeira, afinal ele tem contas para pagar. Além disso, em outras empresas o
clima não seria tão diferente. Esse tipo de assédio moral que acontece no mundo
profissional dificilmente é relatado, quem denuncia fica marginalizado pelas
empresas que se protegem.
Sabe aquele
contato que o RH de uma empresa faz com o RH da outra, quando se checam os “antecedentes
trabalhistas”, ninguém diz: "fulano foi um ótimo profissional, cumpridor de suas
obrigações e responsável". Eles dizem, "fulano denunciou o chefe por assédio moral". E, a empresa contratante ao invés de perceber ali um profissional digno que luta
por seus direitos, vê nele um problema.
Seria telhado de vidro?
Se a
empresa coíbe e trata com fervor as manifestações de assédio, de qualquer natureza, no seu
ambiente, nada tem a temer. Na verdade este novo funcionário é um exemplo do
que ela defende: integridade.
Na
minha opinião, nenhuma empresa deveria ligar para a outra para saber dos “antecedentes
trabalhistas”, o histórico do trabalhador deveria ficar registrado em algum
departamento da justiça do trabalho ou sindicato trabalhista, onde a empresa da
qual ele saiu pode registrar as atitudes comportamentais do trabalhador atestadas
por um mediador isento, na homologação trabalhista. Dessa forma, não haveria
perseguições às vítimas de assédio. Por outro lado, o trabalhador que roubou e
fraudou fica exposto. Exposição que quase não aparece na checagem realizada
pelos RHs atualmente, o fraudador encontra meios de ludibriá-los.
Eu ainda
tenho o sonho de trabalhar e ajudar a construir uma empresa que valorize o “ser
humano”, seja ele homem ou mulher, onde sua cor de pele, crença e sexualidade não
sejam limitantes.
Uma
empresa sustentável econômica e socialmente, que além de prover serviços e/ou
produtos de qualidade a preço justo e confiável aos seus clientes, também provenha
exemplos e incentive a cidadania e o caráter positivo dos seus funcionários.
O
nosso futuro não depende somente de elegermos bons governantes e cobrarmos
nossos direitos, mas de cumprirmos nossos deveres sociais, e boa parte disso pertence
às empresas bem constituídas, onde as pessoas sonham em trabalhar. «
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