sexta-feira, 29 de maio de 2009

Timidez

Eu Krika, confesso publicamente que fui muito tímida, lembro de uma vizinha dizendo para a minha mãe que eu jamais conseguiria um emprego por causa da minha timidez.

Mas ela estava enganada, timidez com certeza atrapalha muito o desenvolvimento de alguém, mas tem solução. Deve ser enfrentada.

Se aquela vizinha visse hoje o resultado de uma avaliação da minha personalidade que diz que sou bastante centrada, tenho discurso claro e seguro. Com boa desenvoltura e comunicação. E tudo isso no cara a cara, por meio da escrita fica fácil ter desenvoltura.

Mas eu não estava sozinha, quase metade da população sua frio, gagueja ou dá meia volta diante de uma situação difícil.

Começar uma conversa é um pesadelo, mas o pior de tudo é fazer uma apresentação para uma sala cheia de gente.

Na minha graduação, o trabalho de conclusão era apresentado para toda a sala. Geralmente por grupos, mas eu e uma colega queríamos nos especializar em banco de dados relacionais, e os grupos queriam assuntos mais amenos. Então, conversamos com a professora e recebemos autorização para fazer o nosso trabalho de conclusão como queríamos, mas recebemos uma advertência muito clara dela: “o tema é muito bom, esse trabalho precisa ser excelente”.

Com a prévia dos trabalhos em mãos, ela mudou o rumo das apresentações, teríamos que apresentar no auditório para outras turmas. Eu fiquei sem ação. Minha colega tinha muita desenvoltura, ela falava alto. Meus colegas diziam que eu precisava de um megafone no dia-a-dia. Por aí, você imagina o quanto sofri por antecipação, pensando em como seria o dia da apresentação.

O assunto nós dominávamos, tínhamos feito extensa pesquisa, inclusive com tendência de mercado, os bancos de dados relacionais eram novidade na época. Conversamos com DBA’s para balizar nosso trabalho. Não tínhamos computador pessoal na época, então escrevemos a apresentação à mão, e contratamos uma empresa de digitação, lembro que ficou muito bom para os padrões da época. Lembro que a minha colega se preocupou com a parte visual, e eu com a escrita, o trabalho foi totalmente digitado à máquina de escrever.

Não lembro qual era o software, mas não era PowerPoint, alugamos retroprojetor. As apresentações na época eram feitas em transparências, computador pessoal ainda era um luxo.

O dia da apresentação. 
Eu tremia, e para meu desespero o auditório estava lotado com pessoas sentadas no chão e encostadas na parede, assim que a professora descobriu a parafernália que tínhamos montado para a apresentação, ela entendeu o convite a turmas de outros cursos.

Eu suava frio e tremia. Ai que vontade de fugir, mas daquilo dependia a conclusão do meu curso. Na noite anterior eu havia tido todo tipo de pesadelo de como daria tudo errado.

Eis que a primeira coisa boa daquela noite aconteceu, a Patrícia (minha parceira de trabalho) virou para mim e disse: “Eu não disse nada, mas tenho uma surpresa para você. Eu pedi microfones para nós.”

Eu nem imaginava que tinha microfone, já que os outros grupos não tinham usado.

Você não imagina o alívio que eu senti, a apresentação estava dividida em duas partes, a Patrícia foi a primeira. Assim que a apresentação começou, fez-se silêncio. Nenhum burburinho, risadinha, nada. Ela foi perfeita!

Eu apresentei a minha parte olhando para a parede do fundo, acima da última cabeça que eu enxergava. E apontando a projeção para mostrar os gráficos de tendências.

Mas dava para ouvir minha respiração em algumas partes da apresentação, eu tentava respirar corretamente, mas eu estava realmente trêmula.

Nenhuma risadinha. Nada. Não sei porque, aquilo começou a me parecer que não era bom.

Fim da apresentação. Eles aplaudiram. A professora aplaudiu euforicamente. E veio até nós, tomou o microfone e disse que não divulgava a nota até a avaliação final, mas que no nosso caso ela abriria uma exceção, nossa nota era 10. Ufa!

Aí, um engraçadinho lá do fundo disse: “O microfone foi uma grande idéia, pela primeira vez eu ouvi a voz da Krika”. Um cômico, ele sentava do meu lado na sala de aula! As maçãs do meu rosto queimavam.

Você pode estar rindo da minha estória, mas ela realmente aconteceu comigo, e todas as paranóias, medos, suor, pernas bambas, acontece com quase metade da população.

A timidez faz isso com a gente, e se cedemos a ela não enfrentamos nada. Ter enfrentado e sobrevivido a essa situação, foi um dos primeiros passos para vencer a timidez.

Eu percebia que quanto mais eu me sentia segura, mas desenvoltura eu ganhava. Com certeza eu faria uma apresentação muito melhor agora.

Você é um grande comunicador! Basta que acredite nisso.
Na primeira semana, em uma empresa eu tive que fazer uma apresentação sobre as análises preliminares de um problema para os principais coordenadores sem conhecê-los. Muito pior do que não conhecê-los era que eu podia estar tocando em pontos sensíveis, em geral quando se fala em problema, as pessoas instintivamente procuram por um culpado e reagem de forma negativa. 
Que bom que eu superei a timidez, eu não senti as maçãs do rosto queimar, minhas mãos não suaram, minhas pernas não tremeram, pude olhá-los nos olhos enquanto fazia a apresentação. Até quebrei o gelo da situação, mostrando possíveis soluções e envolvendo-os no assunto de forma participativa.

Se eu consegui, você também consegue. Em geral, travamos porque não nos sentimos seguros sobre o assunto, portanto estude com afinco o assunto, esteja preparado para os questionamentos, quanto mais claro e preciso você puder ser menos dúvidas gera nas pessoas, mas elas confiam em você.


Apresente-se, isso aumenta a sensação de intimidade. 

A falta de reação do interlocutor a um assunto não significa rejeição a você, mas ao assunto, portanto escolha outro assunto de interesse comum, ou mude a abordagem. Quando eu explico algo, eu procuro usar exemplos ou faço analogias com elementos do cotidiano das pessoas presentes. 

Não responda por monossílabos (sim, não, etc.), tente dar informações pessoais para criar empatia. 

Preencha os silêncios, faça perguntas ou comentários.


É como dizem, quem tem boca vai à Roma.  «

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