sábado, 2 de maio de 2009

Seleção natural de empresas: evolução ou regressão?

Há 10 anos para ter uma carreira bem sucedida uma pessoa devia se preocupar com uma pós-graduação e falar no idioma inglês. Nos últimos 16 anos todas as empresas para as quais trabalhei exigiam o inglês no currículo, mas só quando passei de desenvolvedora a pesquisadora de metodologias e técnicas é que realmente senti a necessidade do idioma na minha vida profissional. Ou seja, as empresas pedem compulsivamente atributos que não precisam em um profissional. Hoje a novidade é ser multicultural, ou seja, ter tido experiência no exterior.

Algumas empresas só contratam profissionais formados em faculdades de primeira linha, não contesto a formação que essas faculdades dão aos seus alunos. Acredito que realmente é muito boa, mas aprendizado depende muito mais de quem aprende do que de quem ensina. Não fosse assim, jamais cometeríamos os erros que nossos pais nos alertaram.

E caráter, honestidade, motivação, ética, dentre tantas outras qualidades pessoais importantes não são encontradas com tanta facilidade nos profissionais vindos de faculdades de primeira linha.

Quando olhamos para sociedades onde há discriminações sociais profundamente enraizadas, como na Índia, ficamos indignados. Como alguém que nasce em uma determinada posição social deve continuar nela sem grandes oportunidades de ir adiante, mesmo que tenha um QI que poderia fazer a diferença para descobertas cientificas?

É o que fazem as empresas que colocam na descrição de suas vagas ou escolhem por considerar uma faculdade de primeira linha ou não. Isso é discriminação, e elas se orgulham dessa prática, dando entrevistas na televisão e o dizendo abertamente, sem qualquer pudor: "nossos profissionais vêm de faculdades de primeira linha".

O nazismo defendeu uma supremacia racial, estariam essas empresas defendendo uma supremacia social?

Todos nós sabemos que não é o conhecimento do candidato que está sendo avaliado e sim sua condição social, uma pessoa de poder aquisitivo menor, que trabalha para pagar seus estudos, dificilmente terá condições de cursar uma faculdade de primeira linha, mas isso não significa que não irá assimilar tudo o que for ensinado, nem que não terá fome de conhecimento.

Não importa se o quesito escolhido é sua cor de pele, sua condição sexual ou social, continua sendo discriminação. O governo teve que intervir para que pessoas com deficiência física pudessem ser contratadas, teve que instituir cotas em universidades para que uma parcela da sociedade com condições sociais inferiores pudesse ter algum direito assegurado.

Os empresários que agem dessa forma excludente, estão se esquecendo de um detalhe importante: para que essas empresas sobrevivam, elas precisam que seus produtos e serviços sejam adquiridos até mesmo por aquela parcela da população que elas discriminam.

Felizmente, a informação não é mais privilégio de poucos, o mundo digital chega aos lugares mais remotos do nosso país.

Uma parcela muito maior da sociedade tem feito escolhas melhores, seja dos seus representantes políticos como dos produtos e serviços que adquirem.

Não estou dizendo que as empresas precisam estabelecer cotas para pessoas de posição social inferior, apenas que admitam em seus testes de seleção em condições de igualdade a formação em qualquer faculdade, o resultado dos testes dirão quem são os melhores candidatos. Garanto que um profissional que trabalhou para pagar seus estudos tem um senso de responsabilidade muito maior para o trabalho.

Discriminação de qualquer natureza representa burrice e perda de tempo, deveríamos olhar para o passado de nossa humanidade e aprender com nossos erros e não darmos uma nova roupagem a eles e continuar insistindo neles.

Escolha a Diversidade para sua Empresa

A Declaração Universal dos Direitos do Homem da Organização das Nações Unidas afirma em seu primeiro artigo:

Todos os seres humanos nascem livres e iguais em dignidade e em direitos. Dotados de razão e de consciência, devem agir uns para com os outros em espírito de fraternidade.


É bom lembrar que uma empresa seja ela do tamanho que for é constituída de seres humanos.  «

Um comentário :

  1. gostei do artigo e [e muito pertinente o que voce escreveu. Uma forma de agir contra a discriminacao e' boicotando estas empresas e fazendo uma imagem negativa delas, afinal, aqueles que nao sao de institui;oes de primeira linha tambem sao consumidores e tais empresas dependem deles. Minha primeira faculdade foi em uma tradicionalissima instituicao de primeira linha e hoje cursando uma segunda faculdade em uma de segunda linha, vejo que fui enganado na primeira, pois so tinha professor que nao atuava no mercado de trabalho, e nesta faculdade onde estou atualmente, os professores sao excelentes, porem, para a maioria destas empresas, vale o nome da instituicao....grande bobagem....e azar deles!!!

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